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Aqui jaz o Ilustre Príncipe D. Afonso, Marquês de Valença, conde de Ourém (Vila Velha de Ourém, Ourém, Santarém)

 


«Aqui jaz o Ilustre Príncipe D. Afonso, Marquês de Valença, conde de Ourém, primogénito de D. Afonso, Duque de Bragança, e conde de Barcelos, e neto d'el Rei D. João de gloriosa memória, e do virtuoso, e de grandes virtudes D. Nuno Alvares Pereira, Condestável de Portugal. Faleceu em vida de seu pai, antes de lhe dar a dita herança, de que era herdeiro, o qual foi fundador desta Igreja, em que jaz, cuja fama e feitos este dia florescem. Finou-se a 29 de agosto do ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1460 anos.»

Assim reza o epitáfio, na arca tumular, do 4.º Conde de Ourém, figura marcante do panorama político e artístico do Portugal quatrocentista, que se finou em Tomar (1460) e cujos restos foram trasladados à Colegiada de Ourém, para cripta própria, sobre o coro alto (1487) por seu filho bastardo D. Fernando

Só equiparável aos príncipes da Casa de Avis
À época, a construção de uma cripta destinada a receber os próprios restos mortais, como a que mandou edificar, sobre a igreja que, em Ourém, financiara e equiparara à condição do estatuto de uma Sé, era uma novidade, que confirmava  D. Afonso como um infante entre os infantes. Um nobre cujo prestígio e poder, no Reino, apenas eram equiparáveis aos dos príncipes da Casa de Avis. 

Por iniciativa do avô materno (D. Nuno Álvares Pereira que repartiu os seus bens, pelos netos, antes de se retirar para o Convento do Carmo) D. Afonso, com cerca de 20 anos,  em 1422, recebeu o senhorio e o título de Conde de Ourém, o que lhe permitiu tornar-se independente e fundar Casa própria.  

A esse património fundacional que continuamente se encarregará  de engrandecer, no futuro se associariam os bens e os privilégios do Ducado de Bragança, pois como filho primogénito era o herdeiro esperado. Infelizmente o destino não se confirmou como esperado, e o filho não sobreviveu ao pai. 

Em 1451,D. Afonso recebe do monarca Afonso V, mais um título, o de  Marquês de Valença.


A Colegiada de Ourém e a sua cripta
A Fundação
Em 1445, o arcebispo de Lisboa concedeu a D. Afonso, 4º Conde de Ourém, a autorização para transformar a Igreja Matriz de Ourém em Colegiada, congregando as outras quatro igrejas paroquiais de Ourém. Assim o Conde consignou-lhe copiosas rendas para a sustentação das Dignidades e Cônegos que a constituíam, em tudo equivalentes ao cabido de uma Sé.

Volvidos alguns anos, em 1453, iniciou-se a a reformulação arquitetónicas da matriz num novo edifício, condizente com a dignidade de uma Colegiada.

Da destruição à reconstrução
Hoje o templo já não é a estrutura que ele promoveu, porque aquela, a força teutónica do terramoto de 1755, arrasou. A excepção à destruição completa ocorreu na cripta de baixo do coro, onde Afonso de Portugal, Conde de Ourém e Marquês de Valência, jazia e jaz sepultado em soberbo túmulo. 

reconstrução sobre a ruína,  entre 1760 e 1770, com projeto de Carlos Mardel, resultou o edifício de hoje, desmesurado para as dimensões do burgo, talvez como já seria o anterior.




A cripta e a arca sepulcral de D. Afonso
A cripta é uma capela subterrânea de sessão quadrangular, coberta por um sistema de abóbadas de aresta, que descargam em colunas calcárias (com capitéis de cariz geometrizante e vegetalista) e em estriadas mísulas salientes das paredes.

A meio do espaço central, contido entre as colunas, encontra-se a arca sepulcral de D. Afonso, executada entre 1485-87, sob encomenda de seu filho. 

O trabalho escultórico e decorativo da arca tumular, em pedra branca de Ançã, de recorte do gótico flamejante, integra-sdentro do renascimento da escultura Coimbrã que marcou o panorama escultórico português do fins do século XV 

O morto está representado em vulto, jazendo sobre a tampa, com a cabeça descansado sobre em dupla almofada.  O corpo  envolvido por uma túnica comprida de pregas rígidas e os pés sobre uma mísula decorada. Acredita-se  que o rosto é o fiel retrato do original. 

As laterais da arca, apresentam baixos-relevos fitomórficos, possivelmente gilbardeiras, a planta heráldica do Conde, a rodeia o escudo  heráldico e a divisa do conde D. Afonso, que já analisámos aqui. Na cabeceira, o mesmo brasão sobrepujado por elmo.
























 


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