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O Núcleo Museológico das Mantas e Tapeçarias de Belver fala-nos dos têxteis tradicionais portugueses e da arte das mulheres, as tecedeiras, que debruçadas sobre o tear, cruzando um a um os fios da trama, com os fios da teia, transformavam o linho, a lã e o trapo, em mantas, tapetes, tecidos e outras peças.
Quando os seus teares eram de pedal, como os expostos neste núcleo, as conversas, entre as obreiras, sobre o quotidiano das suas terras e das suas vidas, teriam como som de fundo a cadência dos pedais a funcionar.
A arte tradicional de tecer, ou o trabalho nos teares teve o seu declínio, na década de setenta do século XX, com a ruína da sustentabilidade das produções têxteis tradicionais e com o desaparecimento das suas técnicas, modelos, patrões e produtos.
O núcleo museológico, que rememora a vivência dessa atividade, em Belver, localiza-se no espaço recuperado de uma antiga unidade fabril de tecelagem, junto ao rio, a fábrica Natividade Nunes da Silva.
Fábrica que teve quase seis décadas de laboração e conheceu uma história distribuída, em duas fases marcadas pela chefatura feminina da figura da mestra, como se apercebe a partir dos itens e vídeo, em exibição, no piso do rés-do-chão.
Foi logo, neste piso, que um painel sobre a origem e a história da Fábrica Natividade Nunes da Silva, conquistou-me para o discurso narrativo da exposição, ao citar Simone de Beauvoir "É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho pode garantir uma independência concreta".
Como aquele ideal, assim formulado, bem se aplicaria a Natividade Nunes da Silva e a Maria Nunes da Conceição e a todas as outras mulheres da fábrica, obreiras da arte de tecer e da lide do campo, os dois mesteres que eram passados, de geração em geração, de mães para filhas, na conquista feminina de um novo papel económico e social. Ideal que também se aplicou, a mim, ou foi igualmente sentido, por mim, enquanto mulher que chegou ao mundo do trabalho, na década de setenta do passado século.
No piso superior, onde terá funcionado a produção dos teares e laboravam aquelas mulheres, a primeira nota é a luminosidade da sala, que entra pelas janelas rasgadas e orientadas a poente e ao curso, das águas do Tejo, para a foz.
Estas janelas que, felizmente, não se apresentam camufladas, foram mantidas na integridade da sua funcionalidade. No contexto fabril que originalmente serviram, do ponto de vista económico e do bem-estar visual, foram um proveitoso sistema de iluminação natural e um conveniente sistema de ventilação que afastaria o pó acumulado, durante o manuseamento de grandes quantidades de fibras naturais.
A sala, que se abarca plenamente ao primeiro olhar, é agradável e convida-nos a interessarmo-nos pelos pormenores, como conhecer os teares -o vertical, o de grade e o de pedal- e o seu funcionamento, por exemplo, o fato de cada pedal acionar individualmente um conjunto de fios específicos da urdidura; ou a descobrir acessórios -a lançadeira, o peso e o esticador.
Nela mostram-se ainda outros instrumentos como a roda de fiar, a roca, o fuso, a dobadoura; bem como as matérias primas- o linho e a lã - e as suas prévias preparações para os teares. Por último, mas não menos importante, exibe, em mostradores verticais, uma coleção de peças tradicionais, como mantas, tapetes, colchas, amostras.
Saio agradada com o núcleo, o edifício, a coleção exposta e a narrativa da exposição, lamentando ter que aceitar que a "morte" dos sistemas produtivos artesanais é infelizmente certa, mesmo que sejam, como aqui, implementadas boas mais-valias de carácter cultural e turístico.
ROTA DO ALTO TEJO