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Capela de São João Baptista ( Amieira do Tejo, Nisa, Portalegre)




Segundo inscrição, no frontispício, a Capela de S. João Baptista foi construída no ano de 1556.    


Adossada a uma torre, cortou a barbacã do castelo e ocupou integralmente a largura da liça, anulando a primitiva e plena circulação naquele espaço.  

 

A escolha da sua implantação comprova que, no século XVI, o ataque, sobre quaisquer hipotéticos sitiantes, deixara de ser a prioridade  dos habitantes do castelo e que este já não seria mais usado, na defesa do território. Em verdade, passara a funcionar como um paço residencial da ordem. 


 


Um portal, em arco de volta perfeita e aduelas almofadadas, ao gosto renascentista, procura enobrecer a singela fachada da capela.


Por cima daquele, uma legenda em latim "Joannes Est Nomen Ejus" , ou seja "João é o seu nome" é uma citação retirada da Vulgata do Evangelho, segundo São Lucas (1:63). 


Acima da legenda inscreve-se uma Cruz da Ordem de Malta, rodeada, em dois lados, por uma rosa.




No interior, da capela, a simplicidade mantêm-se nas despidas paredes da nave única.  De realçar a coberta em abóbada de berço, subdivida em doze caixotões decorados.  


Neles impera a técnica de esgrafitado, nas cores branco e negro, para compor uma decoração feita exclusivamente por grotescos. Há motivos vegetalistas e geométricos, criando seres híbridos (meio humanos, meio vegetais).  



O esgrafito é uma técnica decorativa mural que recorre à incisão com uma ponta aguçada, para remover a camada superficial da argamassa, enquanto aquela está macia, de forma a mostrar a coloração da argamassa subjacente. O resultado é um expressivo jogo plástico de claro-escuro e de texturas (baixo-relevo) entre dois ou mais planos paralelos. 

  

O trabalho terá  sido executado, entre finais do século XVI e inícios do XVII,  e, se bem que inspirado em modelos eruditos, é de produção popular. 


As semelhanças entre os esgrafitos da  Capela da Amieira e os da Matriz do Crato são evidentes: a mesma hierarquia do espaço e modo de distribuição iconográfica; as mesmas cores, branca e negra; a existência de figuras idênticas.  Só que o artífice da matriz seria mais experiente  e apto a produzir um trabalho mais erudito. 


Confesso que não prestei muita atenção à imagem de S. João Baptista, no altar, a única existente, porque  me pareceu ligeiramente rude. Hoje, arrependo-me de não ter verificado se, esta é a  imagem de pedra, referida nas Memórias Paroquiais de 1757, deduzo que sim. 





 

S. João Batista foi o santo de particular invocação das ordens dos Templários e do Hospital/ Malta. É, igualmente, um dos três santos das festas populares, que ocorrem, um pouco por todo o país, no mês de junho.  

 

A tradição dos festejos a S. João, em Amieira do Tejo, é atestada por carta régia de 1416, de Afonso V, posteriormente confirmada por João II e por Manuel I.


Refere, aquela, a concessão do privilégio de poderem ser moços solteiros constrangidos a fazer as festas a S. João Baptista, conforme lhes fosse ordenado, pelos imperadores e oficiais. Estes últimos poderiam aplicar, aos desobedientes e não cooperativos participantes , uma pena de até cem reais brancos. 


Os imperadores e oficiais podiam demandar, penhorar e vender os bens penhorados dos desgraçados, até  à  quantia, em causa, em benefício das despesas da festa. E se não houvesse bens para serem penhorados, a rapaziada podia ser encarcerada dentro do castelo. 


Tude M. de Sousa, em 1929, no volume XVIII, de Arqueologia e História, escreveu:(...) certo que o S. João, padroeiro da Ordem de Malta, a que o Priorado pertencia, foi sempre e ainda agora é de especial devoção das gentes de Amieira, principalmente das raparigas solteiras que todos os anos lhe enchem a capela de luzes e de flores e pelas ruas lhe acendem fogueiras de rosmaninho, entoando-lhe, com danças e cantares apropriados, ao som do clássico pandeiro, a par das variadíssimas quadras que andam no cancioneiro popular do país todo, outras de sabor e intenção puramente locais, como estas: 

 

Pelas almas que lá estão. 

Vamos chegando à Praça, 

Rezemos um padre nosso 

De fronte de S. João; 

 
 

Baptista mora na Praça, 

Mesmo ao pé do celeiro; 

Baptista, primo de Cristo, 

Deus e Homem verdadeiro.


 Perguntas a que não sei responder: As festas em honra de S. João Baptista permanecem na Amieira do Tejo? Ou, estão, cerca de 100 anos, depois, deste testemunho, irremediavelmente perdidas nas tradições e memórias dos amieirenses?

 








 ROTA DO ALTO TEJO


ROTA DOS HOSPITALÁRIOS

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