Translate

Museu Nacional Ferroviário, uma visita imprescindível (Entroncamento, Santarém) *

😍😍😍😍😍


Inaugurado, no Entroncamento, em 2015, o Museu Nacional Ferroviário ocupa uma área de dois hectares e meio, “paredes meias” com a estação de caminho de ferro da cidade, o interface ferroviário para o qual confluem as linhas do Norte e da Beira Baixa. 


Sobre a acumulação do acervo português

O operativo “mar de linhas”, a que corresponde o complexo ferroviário do Entroncamento, é o pano de fundo que coloca em contraste os materiais circulantes e tecnologias atuais, com os do passado, em exibição no Museu Nacional Ferroviário.  


Mais acentuada seria a diferença, não se verificasse, em relação às ferrovias europeias, atraso nos investimentos e modernização do tráfego e das infraestruturas ferroviárias portugueses. Uma decalagem, pondero, de talvez trinta anos, à semelhança da ocorrido, a 28 de outubro de 1856, quando da primeira viagem de comboio, em Portugal.  


Naquela data, uma só via fora construída, na curta distância, entre Lisboa e o Carregado. No retorno da viagem inaugurar, a locomotiva, comprada em segunda mão aos britânicos, não teve força para rebocar as carruagens e foi largando-as, juntamente com os seus ilustres passageiros, pela lezíria fora. 


O património ferroviário português, acumulado, durante 165 anos após o desastre inicial, é composto por um vasto legado material e imaterial, cujo inventário regista milhares de peças e centenas de veículos.  

 

O conjunto de bens ferroviários antigos, em Portugal, não foi sujeito à destruição das duas Guerras Mundiais, e, estando, sempre, o caminho-de-ferro sob a administração direta do estado, o resultado é um vasto acervo inventariado, o que possibilita uma boa vantagem em relação aos espólios de museus, dedicados à temática, na Noruega, Inglaterra, Holanda, França, Espanha e Suíça. 




  


A experiência da visita à coleção ferroviária do Entroncamento 

Quem quiser visitar o Museu Nacional Ferroviário que disponha de tempo e de nenhum cansaço nas pernas, porque só assim poderá usufruir, em pleno, uma das melhores coleções ferroviárias, em exposição, na Europa.


Iremos caminhar, longo tempo, por entre locomotivas, carruagens e vagões. A coleção exibida, no Entroncamento, leva-nos prioritariamente por entre material circulante (a vapor, a diesel e elétrico).

 

Mas, não é exclusivamente sobre a evolução técnica e tecnológica das máquinas de tração e do aperfeiçoamento das carruagens que se lhes atrelavam e de outros tipos de material rebocado, que se compõe uma visita ao  Museu Nacional Ferroviário.


A experiencia do visitante, neste espaço museológico, distribuído por várias áreas interiores e exteriores, configurar-se-á  como uma de viagem plurifacetada na abordagem ao passado dos caminhos-de-ferro portugueses, da sua origem em meados do século XIX e metade do século XX. 


A entrada faz-se pelo antigo Armazém de Víveres (espécie de supermercado para ferroviários) que agora acolhe a recepção, cafetaria e a loja do museu (que disponibiliza livros e merchandising alusivo aos caminhos de ferro). Este espaço alberga, igualmente, as exposições temporárias e uma interessante parte da exposição permanente. 


Com o apoio empenhado dos vigilantes, quando o visitante se encaminhar para os restantes núcleos, poderá ter que dar prioridade a comboio que circula, no interior do museu, por linha, em atividade. A placa de "Pare, Escute e Olhe" não está, aqui, em sentido figurado.




A viagem museológica do passageiro visitante 

Durante a sua “viagem museológica", o visitante aperceber-se-á das muitas transformações operadas na sequência do aparecimento do caminho de ferro e das suas linhas e serviços, sejam elas sobre o modo de viajar, a duração das viagens, ou as transformações que se manifestaram ao nível do desenvolvimento socioeconómico, da paisagem rural e urbana e de modos de vida novos.  


O “passageiro do museu” terá hipótese de observar o sistema organizativo de uma estação antiga: a sala de espera, os porta  horários, os relógios, o armário bilheteira, a marcadeira, os bilhetes de cartão, o telégrafo e o telefone de mesa, as mercadorias, o carro bagageiro, etc.   


Mas a escolha  da carruagem de embarque e da sala de espera (em primeira, segunda, ou terceira) não passará de uma opção de bem olhar.  


Em verdade, a opção de bem olhar, o visitante terá de manter, em face, de cada item do incomensurável acervo exposto, para encontrar a informação que dele imana. 


Pormenores do painel do carro alegórico da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses que integrou o Cortejo do Trabalho ( Porto, 5 de julho de 1940) . Estão representados  maquinistas, fogueiros, ensebadores, guardas de passagem de nível, assentadores de via, carpinteiros, chefes de estação, fatores, com os seus instrumentos de trabalho. Ao fundo, a locomotiva símbolo do progresso.


O “passageiro visitante” descobrirá a vasta família ferroviária, em suma o que foi o novo mundo ferroviário, com ofícios e categorias profissionais inéditos e condições de trabalho especificas. Ser-lhe-ão apresentados sapadores, maquinistas, fogueiros, guarda-freios, guardas-de-linha, revisores, factores, chefes de estação, fiscais de dia, bagageiros e outros. 


A descoberta mais surpreendente , no meu caso, foi a existência e funções do "Batalhão de Sapadores de Caminho-de-Ferro", tema da exposição temporária que decorria. 


O visitante deparar-se-á  com os  planos dos engenheiros ferroviários e a execução dos projetos das infraestruturas das obras ferroviárias, tais como  linhas, pontes, túneis, apeadeiros, depósitos de água, casas de guarda e outros.  


Conhecerá os  grandes fabricantes, das décadas finais do século XIX e iniciais do XX, através das placas apensas às locomotivas. E com os grandes fabricantes, os seus produtos,  para enumerar só os mais antigos  expostos ao longo dos diversos núcleos:


A locomotiva n.º 1, “Dom Luís”, construída em 1862, em Inglaterra pela referida Bayer Peacock; o furgão mais antigo construído em 1888, em França, nos Ateliers Metrotopolitains; o salão conhecido por D.ª Maria Pia, construído na Bélgica, em 1852, na Compagnie Génerale de Matériel des Chemins de Fer; as locomotivas a vapor, conhecidas por “ratinhas”, 004 e 005, esta de caldeira vertical, a primeira construída em 1882 pela casa Sociètè John Cockerill, e a segunda construída pela mesma casa em 1901, na Bélgica; a locomotiva a vapor 070, construída em 1944 nas oficinas gerais da CP, em Lisboa; a locomotiva a vapor 2049, a mais antiga existente em Portugal, construída em 1857 pela casa William Fairbairn e a locomotiva a vapor 550, construída 1924 pela casa Henschell & Sohn.


Sobre uma larga parede, descortinará uma espécie de  "inventário em metal", constituído por placas de identificação, na ordem das dezenas de itens,  de outras tantas locomotivas e carruagens que, no seu tempo, circularam.  


Passará pela reconstituição do que era uma oficina de manutenção, mais precisamente a antiga oficina ferroviária da CP, na Figueira da Foz, inaugurada em 1882 e muito ativa nas décadas de vinte e quarenta do século XX. Aqui, estão maquinaria e ferramentas com as quais,  era reparado, mantido, ou modificado todo e qualquer tipo de material circulante, à época. Hoje, maquinaria e ferramentas inaptas para a sua função, são a memória do que foi o progresso tecnológico do seu tempo. 


Encontrará sistemas de inspeção e manutenção de via. Terá  oportunidade para visualizar, dos anos quarenta, um quadriciclo  a pedais que um só homem manobrava durante a inspeção da linha.


Sonhará, retrospectivamente, junto a  antigos cartazes publicitários, das décadas de quarenta a oitenta, do século XX. São exemplo da relação da ferrovia e do turismo, na construção de sentidos e significados promotores do comboio, como um produto de descoberta cultural, lazer e prazer de viver. 



Se o acervo exposto surpreende o visitante, os vários edifícios do campus museológico reforçam a qualidade da visita, pois têm tudo para oferecer, inclusive a sua arquitetura.  São vários os espaços que reaproveitaram edifícios históricos, uns mais antigos que outros, edificados ao longo dos tempos,  no Entroncamento, para albergarem diversas mais-valias de cariz ferroviário. 

Para além do referido armazém dos víveres,  temos: a estrutura do poço das locomotivas, a placa giratória que tirava as locomotivas da "cocheira" e as colocava na linha; as Antigas Oficinas do Vapor, grandes estruturas industriais, numa arquitetura magnífica de ferro e tijolo.


E, já agora, não esquecer de procurar no horizonte, por detrás das Oficinas do Vapor, o edifício da Central Elétrica da CP,  implantado numa área que, pertencendo ao museu, ainda não é visitável. 

 


Talvez, os destaques unanimes dos visitantes, por entre as peças emblemáticas do museu, sejam para o Comboio Real e para o Comboio Presidencial, o primeiro majestaticamente pintado de verde escuro com dourados e o outro republicanamente pintado em branco, azul e vermelho.


O primeiro, uma espécie de coche sobre eixos, em ferro, madeira e vidro,  qual mini-palácio com salas-carruagens de muitos veludos e gorgorões de seda, galões e franjas;  acrescidas de copa-cozinha, sanitários de porcelana e  varanda coberta.

  

Está formado por componentes construídos individualmente, entre 1858 e 1877: a locomotiva a vapor C.F.S nº 1- D. Luiz, o salão D. Maria Pia e a carruagem do príncipe.  


Na proximidade do  Comboio Real, há uma área dedicada reconstrução das elegantes comodidades da sala de espera da casa real portuguesa. 

 
O segundo, o comboio oficial dos dignitários do Estado Novo, 
foi usado, entre 1940 e 1970, para as deslocações daqueles pelo país. Nele viajaram ocasionalmente visitantes ilustres, do país, como por exemplo, a rainha Isabel II e o Papa Paulo VI.  

 

É composto pelas carruagens-salões designadas como: do chefe de estado, dos ministros,  da comitiva e segurança, dos jornalistas, do restaurante e, pelo furgão, que transportava as bagagens. 


Nasceu, por ocasião das Comemorações Centenárias da Fundação de Portugal (1940) a partir da remodelação de três antigos salões Désouches David (herdados do comboio real, em 1910)  a que foram acrescentadas três novas carruagens,  construídas em 1930, pela empresa Nicaise & Delcuv.  Todas as peças do conjunto foram, uniformizadas interna e externamente, para o formato do salão Linke Hoffmann Busch. Entre outubro de 2010 e julho de 2013, foi restaurado e homologado para novamente circular, porém é aqui que se encontra estacionado.

   

 


A visita ao Museu Nacional Ferroviário é imprescindível para a todos aqueles que se interessam pela história do caminhos-do-ferro nacionais, nas suas diferentes dimensões: técnico-científica, económica e social, paisagística, artística, turística; e, é indispensável para todos que fizeram e fazem parte do universo ferroviário, ou para todos aqueles que nele se reveem 

 

Por último, uma só recomendação sobre o Museu Ferroviário Nacional, "Pare, escute e olhe" , mas se o não puder fazer, não deixe de cocar e maravilhar-se, com uma pequena representação do seu peculiar acervo, num destes links: 




 

Veja um mini-vídeo de imagens sobre o museu:https://youtu.be/UPgo4864yIY


Garanto que, um dia, vou retornar a este museu, com as crianças para que estas se possam divertir a "viajar" no minicomboio e para me avaliar, como maquinista, concretizando o percurso do Entroncamento a Pombal, no "real" ambiente virtual dum simulador de condução. Espero averiguar se consigo conduzir um comboio, por quinze minutos, sem descarrilhar. 




Top de mensagens

Belver, pontos de interesse a descobrir (Gavião, Portalegre, Portugal)

Capela de São Brás e o seu retábulo-relicário ( Belver, Gavião, Portalegre)

As redes de pesca chinesas em Fort Kochi (Kochi, Kerala, India)

Núcleo Museológico das Mantas e Tapeçarias de Belver (Gavião, Portalegre)

Belver e o seu castelo hospitalário (Gavião, Portalegre)

Capela de São João Baptista ( Amieira do Tejo, Nisa, Portalegre)

Museu do Sabão de Belver (Gavião, Portalegre)

Jans, as tecedeiras mágicas (Amieira do Tejo, Nisa, Portalegre)

Procissão de N.ª Sr.ª da Boa Viagem, a continuidade da memória e do espírito do lugar (Constância, Santarém)