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As redes de pesca chinesas em Fort Kochi (Kochi, Kerala, India)




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As redes  de pesca chinesas, ou cheenvala, para os locais, são uma das principais atrações da área de Fort Kochi.  

 

O guia local jura que o melhor ponto para se ter uma visão perfeita, destas estruturas invulgares, é a Praça Vasco da Gama. 

 

Aquelas já foram apenas ferramentas de pesca, porém, como na baia de Cochim, a atividade de pesca vai sendo menos produtiva, estão semiconvertidas em engodo para turista. Talvez as fotos e as visitas guiadas, ao acrescentarem-lhes esta nova funcionalidade, assegurem a continuidade da sua presença por muitos mais anos. 




Entre o incrível-maravilhoso e o majestoso-funcional 

A primeira vez que as vi, foi numa madrugada, em que o dia estava ainda por acordar e as redes iam sendo erguidas lentamente das águas, trazendo as primeiras levas de peixe da manhã. O ritmo lento e o delicado equilíbrio das redes, com a sua carga, em ascensão, era fascinante. 

Enquanto isso, na praia, grupos de três, ou quatro, pescadores cuidavam de pequeno barcos tradicionais, e, na calçada, sob o arvoredo gigante, os vendedores de peixe alinhavam, nas bancadas e nos alguidares, as primeiras ofertas do dia, estimulando os passantes para a sua aquisição


Os turistas ainda não tinham chegado, em massa, e toda ambiência da zona ribeirinha tinha uma autenticidade e um encanto que atingiam os olhos e a alma do viajante, de modo que o sítio e o momento, para mim, se tornaram mágicos e inesquecíveis. 


Voltei mais tarde, na balburdia das festividades de fim-de-ano do Carnaval de Cochim, desta vez, a vida da zona ribeirinha era um gigantesco desfile de passantes. Uma interrupta corrente humana ondulava por entre pontos de venda de quinquilharia, bancas de peixe e filas de interessados, na espera, para pisarem o interior das cheenvala e assistirem ao seu funcionamento. 

 

Simplisticamente descritas, as redes chinesas são grandes redes de pesca, instaladas em terra, que mergulham nas águas, por meio de um mecanismo de postes, alavancas e uma argola . 

 

Uma rede chinesa de pesca tomada individualmente,  com os seus dez metros de altura, por  vinte de largura, é algo que se me afigurou, desde o primeiro relance,  ser o híbrido de um aracnídeo, do tamanho de um dinossauro, com uma artística instalação pública de milhares de euros.  

 

Em conjunto, as redes de pesca chinesas, alinhadas em contínuo, suspensas no ar, enquadradas pelos seus postes madeira de teca e bambu, formam uma visão verdadeiramente fascinante entre o incrível-maravilhoso e o majestoso-funcional.  


Seu design único, permite que apenas uma pessoa, caminhando na prancha principal, possa arrastar o enorme saco de pesca abaixo da cota da água. 

 

É  principalmente ao amanhecer e ao anoitecer que podemos ver as cheenvala em ação, algumas usando, nos postes, luzes que supostamente atraem os peixes. 


  A primeira representação das redes, no topo da fotografia, ocorreu em  1672, por Philippus Baldeus. 


A realidade histórica por detrás da  lenda  

Diz a lenda que o famoso explorador chinês, Zheng He, há mais de 500 anos, apresentou as redes de pesca chinesas aos pescadores de Cochim.  

 

Se tradicionalmente as redes chinesas foram instaladas pelos chineses, novas pesquisas mostram que elas foram realmente introduzidas por portugueses provenientes de Macau.  

 

As originais redes chinesas eram de tamanho muito menor, mas foram os portugueses que usando madeira e carpintaria disponíveis localmente,  a par dos seus conhecimentos na construção de grandes navios, que as melhoraram para rentabilizarem a atividade de pesca no litoral.  

 

Os nomes das diferentes componentes dessas redes chinesas, usados até hoje, são em português, o que é uma indicação definitiva de sua origem portuguesa. 

 

A rede usada para capturar o peixe é designada pelas palavras portuguesas rede ou saco, como explica S. Aleena, na obra Finding Portuguese Cochin.


O mesmo autor especifica ainda que o limite da rede é designada por borda, a gaiola de peças de madeira que a mantêm segura tem o nome brasão, enquanto o anel flexível no topo em que o brasão inteiro se move é a argola.


Além disso, para equilibrar o movimento da rede, as peças têm como nomes as palavras portuguesas corda e pedraHá ainda a calçada, o nome dado ao conjunto de tábuas que formam o corredor sobre o qual os pescadores se movimentam.  


O único nome que S. Aleena enuncia e ao qual não reconheço significado é "odora", a designação dada aos postes que sustentam toda a estrutura ao fundo do lago.

 


Porém, uma outra denúncia significativa da sua generalização, por intervenção portuguesa, está relacionada com os pescadores que pescam com este modelo de rede, que parecem ser, até  hoje, maioritariamente elementos da minoritária comunidade católica latina. 

 

Como se sabe os missionários portugueses encontraram nos pescadores hinduístas, elementos das classes mais baixas da sociedade de castas, uma adesão rápida e fácil, que chegou a possibilitar conversões em massa de comunidades piscatórias, na totalidade dos seus indivíduos. 

















 



ROTA INDIA DO SUL

EM BUSCA DE CRISTÃOS E ESPECIARIA







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