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O Jardim do Castelo de Abrantes (Abrantes, Santarém)




Castelo/fortaleza de Abrantes

Este jardim localiza-se no exterior da muralha sul do castelo/fortaleza de Abrantes e desenvolve-se adjacente a ela. Foi  construído, como um passeio público, nos anos oitenta do século XIX. 

É não só um ponto de repouso, de ambiência muito datada, mas também um fantástico miradouro sobre a cidade Abrantes, sobre o percurso do rio Tejo e sobre o território, de ambas as margens. 


Uma imersão na Belle Époque

Se entrarmos pela discreta porta de acesso, que se situa junto à interseção da Rua Dom Francisco de Almeida com a Rua de São Pedro, logo, se tornam visíveis, à nossa esquerda, por cima do  arvoredo,  três imponentes cubelos medievais, do  lado sul, do castelo  e  as muralhas que os unem. Para nos aproximarmos da base daquelas é necessário montar os socalcos do jardim.


À nossa direita, um pequeno muro funciona como parapeito de terrenos que vão, em declive, até à linha do Tejo.


Por entre pontos de observação da paisagem, ponteados por buxos e canteiros com flores de estação, de imediato sentimos que nos localizamos numa alameda-miradouro.  


No eixo central do jardim, está implantado um estreito e comprido lago, concebido ao gosto de finas do século XIX e princípios de XX, com duas pequenas pontes aéreas e as obrigatórias casas dos cisnes. Hoje, ocupadas por patos e gansos que agitam as asas e grasnam com prazer na água.  


Acompanhando o percurso do lago, chegamos um coreto e, por último, a um grande mirante, orientado a nascente. 


No eixo central do jardim, um estreito e comprido lago, com duas pequenas pontes aéreas 
Patos e gansos que agitam as asas e grasnam com prazer na água
O jardim cativa o passante e reporta-o para tempos antigos

Malgrado o  limitado uso deste  espaço público que, nas últimas décadas de oitocentos,  se constituiu  como  local de encontro e divertimento para todos, onde todos iam mostrar-se e ver os demais,  o jardim mantém um não sei quê de romântico, sentimental e intimista, que cativa o passante reportando-o para tempos antigos. 

A área e a concepção do desenho originais, deste jardim, não permitirão, na atualidade, a realização de um acontecimento festivo para milhares de indivíduos.  Não deixo de imaginar, talvez pela magia do lugar, que  a  reconstituição da animação, de uma noite de verão dum Passeio Público na Belle Époque, com música no coreto teria, aqui,  um excepcional enquadramento.  

Em verdade, já ficaria satisfeita, se me fosse dado usufruir  de um único concerto, no coreto, sem qualquer recriação histórica.

Este é um jardim, que pela caducidade da folhas do arvoredo que o compõe, tem duas imagens distintas, a de outono-inverno e primavera-verão, a primeira cheia de luz, a segunda cheia de sombra.

 Pormenor de nota, são as placas de identificação botânicas, junto de cada espécime arbórea, cuidadas e discretas como convém.


Acompanhando o percurso do lago, chegamos, por último, a um grande mirante, orientado a nascente


Uma entrada para duas saídas felizes

Pela saída, da Rua Dom Francisco de Almeida, se tomarmos a nossa direita, passamos por um parque de skate e contornando toda a muralha, acedemos à entrada do castelo/fortaleza de Abrantes, com as ruínas do palácio dos Alcaides ou Governadores, a Igreja de Santa Maria do Castelo, o Panteão D. Lopo de Almeida e a Torre de Menagem.


Rua Dom Francisco de Almeida, se tomarmos a nossa direita, passamos por um parque de skate


Se sairmos, pelo lado oposto, para a Ladeira do Quinchoso, temos, primeiro, o Baloiço de Abrantes, para  a realização de uma foto "instagrável" sobre a magnífica paisagem ribeirinha; e, em continuidade, temos o Outeiro de São Pedro.

Aqui, usufruímos de um momento de observação repartida, entre um monumento da estética modernista, em  homenagem a D. Nuno Álvares Pereira, e uma reduto militar, com  muros de xisto, onde  se demarcam o arranque de cinco canhoneiras.


Monumento modernista, em  homenagem a D. Nuno Álvares Pereira, no reduto militar de São Pedro


Estórias e história deste jardim

Quando um baluarte e um fosso floriram

 O jardim ocupa um espaço corresponde à área do baluarte da fortaleza  moderna, orientado a sul, mais à correspondente parte do fosso seco (da  sua escarpa à contraescarpa) que antecedia e envolvia aquele, como requeriam os tratados de engenharia militar

Em julho de 1880, a Direção Geral de Engenharia Militar do Exército Português, consciente que a guerra já não se fazia com muralhas, fossem ofensivas ou defensivas, e a iniciar um período de alienação daquelas, cedeu à Câmara a referida área. 

Eis como, os cubelos medievais, por detrás do baluarte, passaram a  delimitar,  a norte, o jardim. Paralelamente, um espaço que sempre servira para impedir que alguém se aproximasse da muralha, passou também a ser uma área que todos estavam convidados a pisar e a usufruir.

 "Planta da praça e povoação de Abrantes" de  João Damasceno da Cunha Machado Pinto e José António de Abreu, post. 1817, onde são visíveis  baluarte e parte do fosso, usados na construção do jardim, e os cubelos medievais que o delimitam a norte


Um só passeio público e vários baptismos

Logo em setembro de 1892, houve a intenção de lhe mudarem o nome de ''Passeio do Castelo'' para "Jardim Visconde da Abrançalha", um potentado económico local, fidalgo-cavaleiro da Casa Real e presidente Câmara Municipal de Abrantes. Ao que parece o homenageado recusou, aos conterrâneos, a ofertada demonstração de veneração.

Mais tarde, em 1901, o "Passeio do Castelo" ganhará a designação "Passeio do Conselheiro Pimentel Pinto",  personagem estranha à comunidade abrantina, porém Ministro da Guerra e um importante membro do Partido Regenerador, ao qual pertencia o presidente da Câmara de Abrantes.

Com a substituição da monarquia pela república, é batizado como "Jardim Machado dos Santos", o nome do chefe militar da revolução republicana vitoriosa de 5 de outubro de 1910. A nova designação foi lesta a ser adotada, apenas doze dias após a implantação do novo regime.

Menos de cinco anos depois, em  24 de maio de 1915, dez dias após a sangrenta insurreição do 14 de maio que levou à deposição do governo, do presidente Manuel de Arriaga  e à reposição  da Constituição Portuguesa de 1911, é rebatizado como " Jardim 14 de Maio".

Com o Estado Novo, vê-se designado por "Parque Dr. Oliveira Salazar". A Revolução de 25 de abril de 1974 retira-lhe essa nomenclatura.

Teimosamente, até hoje, nas referencias populares abrantinas, continua a ser nomeado como Jardim do Castelo, possivelmente designação agarrada à memória inconsciente de que a sua construção foi  estabelecida em função do lazer todas as idades e classes sociais.


Bilhetes postais, das décadas de trinta a sessenta do século XX,  o tempo glorioso do "Jardim do Castelo" de Abrantes

Um jardineiro apaixonado pela sua profissão

Durante quarenta anos, da década de trinta, ao final final da década de sessenta, este jardim  foi cuidado pelo chefe-jardineiro Simão António Vieira

Foi um tempo de glória e de reconhecimento, não só local mas também nacional, para este jardim e para o  seu chefe-jardineiro. Glória e reconhecimento que que ajudaram  a criar a desparecida marca "Abrantes, Cidade Florida", que só conheceu quem tenha mais de sessenta anos.

Foram décadas, em que jornais locais e nacionais, revistas e livros dedicavam páginas: às exposições de crisântemos, que através de uma sábia seleção de sementes,  Simão A. Vieira fazia crescer, nas estufas, para aos milhares ornamentar a cidade em novembro;  aos frisos e placas ajardinadas que executava, com moldes e com variadas espécies de flores e cores, que ganhavam prémios nacionais, com a correspondente admiração da sua arte;  às caprichosas podas de ornamentação executadas nos arbustos do jardim.

Fisicamente desse tempo glorioso, sobra junto a uma entrada do jardim, uma casa, hoje degradada, na qual criou a sua prole, cuidando das flores, arbustos e árvores do jardim.









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