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Monumento a D. Nuno Álvares Pereira (Abrantes, Santarém)


 

Planta de localização


*Pompa e circunstância na inauguração* 

No interior de um reduto militar oitocentista, num topo dum outeiro, local com uma vasta paisagem idílica, em face do Tejo, foi inaugurada, em 1968, uma obra do Estado Novo, para a glorificação e a exaltação do nacionalismo português.

Malgrado, aquele 14 de novembro, ter sido um dia de  fortes chuvadas Abrantes viveu um dia de cerimónias de estado em contínuo.  A abrilhantar a inauguração de muita pompa e circunstância, esteve  "a figura ilustre" do Presidente da República, Américo Tomás. Houve descerramento de placa e benção de bispo, aqui, no Outeiro de São Pedro;  sessão solene, com discursos, no Cine-Teatro de São Pedro; e Missa Solene, na Igreja de São João Baptista. Ver arquivos RTP

A Revolução de 1383–1385 e a batalha de Aljubarrota,  que garantiram a liberdade e a independência da Nação Portuguesa, face a Castela, eram defendidos como marcos importantes no ideário nacionalista do Estado Novo. 

Em Abrantes, no Outeiro de São Pedro, homenageado, D. Nuno Álvares Pereira, herói militar da crise nacional de 1355-58, acampou o seu exército, no caminho daquela batalha que garantiu a manutenção da independência portuguesa, a 14 de agosto de 1358 . Eis o enquadramento histórico que, politicamente, justificava  a escolha do local para a implantação dum monumento ao Santo Condestável, D. Nuno Álvares Pereira.


Este chefe militar vitorioso contra os inimigos de Portugal, como  D. Afonso Henriques, D. João I e o Infante D. Henrique,  era uma das figuras estruturantes do programa de restauração do orgulho nacionalista português do Estado Novo. Nacionalismo promovido através do culto de figuras heroicas nacionais, sinónimos do espírito de sacrifício e de dedicação à pátria e à fé cristã, que se esperava do bom cidadão.


*Um monumento modernista no interior de um reduto militar*

Foram autores, dos diferentes componentes da obra do monumento: o arquiteto Duarte Castelo-Branco, o escultor Lagoa Henriques e o pintor Teixeira Lopes. 

O monumento resultou numa construção que, pela estética e pelos materiais, é perfeitamente modernista.

O betão armado foi moldado em cofragens de madeira, criando vigas com a forma de paralelepípedos de tamanhos irregulares.  

As vigas encostam-se e misturam-se entre si, como elementos estruturantes de um feixe que se vai adelgaçando na altura. A sua união, na parte superior, cria um espaço interior vazado, acessível por porta de grades a norte.

Junto ao topo, mosaicos de vidros coloridos aparecem encaixados nas vigas. 

Imagino que, em determinadas horas do dia, o sol,  incidindo nos vidros, quais vitrais de igreja, criará nas paredes  do espaço interior, que são próximas uma das outras, formas geométricas coloridas em vários tons

O interior não é visitável e, da porta, não dá para ver o caleidoscópio dos reflexos da luz coada pelos mosaicos, o que é pena. O passante só vê,  a partir da grade daquela, até onde alcança a vista, uma camada de lixo há muito depositado no chão.




*Atentados contra o património de todos*

Uma das fachadas do monumento acolheu, durante décadas, a  escultura em bronze, do herói Nuno Álvares Pereira, da autoria de Lagoa Henriques. 

Foi surripiada, pela calada da noite, por gente que sabe que o cobre derrete-se e vende-se bem; e que os atos de vandalismo, causados sobre os bens públicos, em geral, ficam impunes e serão esquecidos.

A ninguém, administração pública e cidadão comum,  parece importar a manutenção cuidada do monumento, ou a perda local da escultura.  

Ocorre-me que se desaparecessem do mesmo mestre, por exemplo: a escultura de Fernando Pessoa, frente à Brasileira do Chiado, em Lisboa; a de Camões e Ilha dos Amores, em Constância; ou,  a de António Aleixo, em Loulé, a indiferença seria a mesma? Não se uniriam todos, população e edilidades locais, para que fosse preenchido o vazio, por réplica, ou por uma nova criação?

Malgrado a beleza do local e da paisagem envolvente, sigo em lamentos porque,  para além do roubo e do lixo, há mosaicos partidos e a maior infestação de plantas, que já vi, cresce e degrada a muralha poente do reduto militar, a ponto de ser impossível distinguir um centímetro quadrado da alvenaria de xisto que a constitui. 


Particularidades da construção militar

A partir da Ladeira dos Quinchosos, tem-se uma boa visão, sobre o reduto militar do Outeiro de São Pedro,  o que  reforçou a conclusão formulada no terrapleno,  aquele foi concebido para a artilharia  ser instalada "à barbeta", o seu parapeito rebaixado permitiria às bocas de fogo disporem de um maior ângulo de tiro. 

Visto daqui e considerando a disposição dos terrenos, na envolvente, quer bocas de fogo, quer artilheiros, sem beneficiarem da proteção dos merlões e numa posição sobre-elevada, de modo algum, seriam um alvo fácil para o tiro inimigo.  Mais, pelas diferentes altitudes das vertentes dos outeiros, a eficiência do tiro, para proteção da já desaparecida porta dos Quinchosos, um acesso ao interior da vila, e para o ataque direto sobre uma grande extensão do acesso exterior àquela, seria total. 

Consigo sempre maravilhar-me com a racionalidade e a eficiência das construções militares. Mais me maravilho ao consultar Planta, perfiz e projecto do Forte de São Pedro , levantado pello 1º Te. Eng.ro Jozé Antonio Morão em 1827, para milhoramento do dito forte na praça de Abrantes, e encontro, uma total correspondência, naquela data, com o perfil da muralha que visitei e a do desenho  de José António  Mourão




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