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Vila Velha de Ourém, nas memórias paroquiais de 1758 (Ourém, Santarém)



(...) É fechada de forte muro, ainda que por muitas partes demolido, que denota ser em outro tempo praça importante.(...)



Entra-se na vila por duas portas

(...) Entra-se na vila por duas portas uma da parte do Sul chamada de Santarém, e outra da parte do Norte, a que chamam a Porta da Vila. Tem dentro da muralha na redondeza do monte a sua fundação em três ruas grandes Rua de São João, Rua Nova, e Rua da Graça, com outras ruas mais piquenas, e becos. (...)



(...) Em todo o alto do monte, e muito super eminente à vila, esta uma grande planície chamada o Terreiro de São Tiago, também com muro baixo, que mostra ser a praças de armas, e ainda hoje tem um baluarte para a parte do Nascente, e junto a este terreiro para o Sul está o castelo, que consta de três torres de mediana altura, duas para o Norte, e uma para o Sul, pela qual se entra no castelo, e largo que de muro alto o cerca, em o qual está uma cisterna subterrânea, que sempre conserva água cristalina.(...)

O castelo, que consta de três torres de mediana altura, duas para o Norte
e uma para o Sul, pela qual se entra no castelo


(...) Descendo deste castelo em distância de um tiro de besta para o Sul está o solar do senhor da terra, que é uma casa forte de arquitetura primorosa do tempo antigo, a que ornam, defendem dois torreões fronteiros fundados na muralha para o Sul e no que fica da parte direita estão as armas dos condes de Ourém, marqueses de Valença, que foram senhores da vila, e na Porta de Santarém no cimo dela da parte de fora estão as armas da terra, que são em escudo as reais com uma lua, estrela, e duas torres, e junto a mesma porta da parte esquerda se hum padrão em que se declara tomar por padroeira do Reino o Sereníssimo Senhor Dom João IV a sempre Virgem Maria com o seu preciosíssimo título da Conceição em o ano de mil e seiscentos e quarenta depois de sua feliz aclamação e inteira liberdade de luso Império.(...)  




Descendo deste castelo em distância de um tiro de besta para o Sul está o solar do senhor da terra, que é uma casa forte de arquitetura primorosa do tempo antigo


(...) Na etimologia do nome Ourém variam os escritores antigos divididos em três sentenças dizem uns que Ourém se deriva de ouro por no monte da vila haver grandes minas dele no tempo dos mouros, e tesouros que aí guardavam; como lugar seguro pela altura, das liberais minas, que naquele tempo faziam na Serra de Aire, outros opinam que Ourém toma o nome de Orem palavra, que na sua tomada disse o Senhor Rei Dom Afonso Henriques aos seus soldados -Orem a Deus acometam o castelo-,donde vem achar-se escrito, ainda que erradamente, Orem em lugar de Ourém. Dizem outros com melhor fundamento por mais seguido que Ourém teve a sua origem de Ouriana dama moura muito destra nas armas, e poetiza daquele tempo, a qual sendo ainda moura, e chama-se Fátima donde toma o nome o lugar, que ainda o tem, parte retirada donde assistia por causa das invasões dos cristãos, sendo apanhada se batizou ganhando-se a vila, e mudou o nome de Fátima em Ouriana, e casou com Gonçalo Henriques cavaleiro d' el-Rey Dom Afonso Henriques, e depois de seu marido falecer tomou o habito de Sam Bernardo e fundou no termo da mesma vila o Mosteiro de Santa Maria de Tamaraes hoje Thomareis na ribeira da Conceição de que ainda vestígios; e é quinta de grande rendimento chamada Abadia, pertencente ao Colégio de Sam Bernardo de Coimbra. (...)

A vila fica tão levantada dela se descobrem a maior parte dos lugares da freguesia

Porque a vila fica tão levantada dela se descobrem a maior parte dos lugares da freguesia assim como, Charneca, Vales, Chainho, Tousinhos, Espertos, Lagoa do Furadouro, Henriques, Caneiro, Outeiro, Sobral, Bairro, Castilhas, Mouta do Açor, Canhardo, Vale do Porto, Gabrieis, Vale da Perra, Azambujal, Casal Novo, Alvega, Atouguia, Mouran, Murtal, Pinheiro, Murteira, Fontainhas, Cacho, Pinhel, Melroeira, Corredora, Quinta de Sam Gens, Quinta da Parreira, Mouta da Vide, Quinta da Caridade, Pimenteira, Lourinha, Vale Traveço, Ferraria, Marnoto, Aldeia dos Alimos, Aldeia da Cruz, Penigardos, Peras Ruivas, da mesma vila se avista o rio Tejo, entre a Cardiga e Chamusca, em distanciada cinco léguas para o Sul, e muntas mais povoações do termo, como Mouta, Lombo de Égua, Aljustrel, Ceiça, Outeiro de Ceiça, Coroados, Quintas, em distância de duas léguas para dentro, e no termo de Tomar em distancia de três léguas se veem os lugares de AlvioveiraCasais, Enxofreira, Travessa, no termo de Chão de Couce na distância de cinco léguas perto da vila de Anciam se veem os lugares da Gaita, e Pulga. Também se descobre a serra de Minde na parte que faz a maior altura, e se chama Serra de Aire, a serra de Alvaiazere, e muita parte da serra da Neve. 

Fonte publica com tanta abundância de água que superabunda, corre de qualidade tão fria que por excesso ofende o paladar

 (...) com natural admiração por a vila ser por todas as partes levantada se conserva nela uma fonte publica com tanta abundância de água que superabunda muito para além do necessário para a vila em todo o tempo do ano, é a água de verão tomada quando corre de qualidade tão fria que por excesso ofende o paladar (...)

(...) erigido pelos anos de mil e quatrocentos, e trinta e seis a igreja da insigne Colegiada com o orago de Santa Maria da Misericórdia que ainda hoje conserva aplicando-lhe todas as rendas das cinco igrejas suprimidas por bula do Senhor Dom Pedro de Noronha arcebispo de Lisboa , donde então Ourem era, passada em dois de Setembro de mil e quatrocentos quarenta e cinco no tempo do Papa Eugenio Quarto, e reinando em Portugal Dom Afonso Quinto, e antes de servirem as ditas igrejas já o Senhor Conde de Ourém Dom Afonso tinha feito a igreja da insigne Colegiada, obra antiga de primorosa, e polida fábrica era só de uma nave com a capela mor e coro levantado doze palmos do pavimento da igreja em abóbada que se sustenta em colunas de pedra fina, fazendo outra capela subterrânea debaixo do coro. (...) Na capela subterrânea que esta debaixo do coro há altar com as imagens de Santo André Apostolo, e Sam Thiago, e na mesma se diz missa todos os meses pela alma do Senhor Marques de Valença, e conde de Ourem fundador desta igreja que nesta capela quis ser sepultado, está em vulto sobre o mausoléu em que seus ossos descansam e em sua circunferência se vê em letra gótica este epitáfio:« Aqui jaz o ilustre príncipe Dom Afonso marques de Valença, conde de Ourem primogenito de Dom Affonsso primeiro duque de Bragança e conde de Barcellos e neto de el-Rey Dom João o Primeiro de gloriosa memoria, e do vitorioso, e de grandes virtudes Dom Nuno Alves Pereira condestável de Portugal que faleceu em vida do seu padre ante de lhe vir a dita herança, de que era herdeiro. O qual foy fundador desta igreja em que jaz; cuja fama e feitos hoje este dia florescem. Finou-se a XXIX (29) dias de Agosto do Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jezus Christo de MCCCCLX (1640) anos»

Memória Paroquial de Ourém redigida

por Luís António Flores,

cura, coadjutor da Colegiada, 1758

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