A Vila Velha de Ourém, ou seja a antiga vila de Ourém de traçado medieval, integra-se numa freguesia do Concelho de Ourém, denominada Nossa Senhora das Misericórdias.
O antigo aglomerado fundacional, a corresponder ao primitivo centro histórico da atual cidade de Ourém, situa-se no alto de um morro a 328m de altura, cuja subida só se aconselha motorizada e com o olho atento na estrada, não na vastidão da paisagem que se vai logrando na ascensão.
A nossa finalizou, na área da antiga Porta da Vila, e felizes com a boa sorte de um estacionamento fácil, ou por nos livrarmos de encostas de marcada inclinação, onde nos cruzávamos com veículos pesados de mercadorias e passageiros, respirámos fundo e admirámos tranquilamente a amplitude do horizonte.
Afonso de Portugal, o 4.º Conde de Ourém, assim que passámos a Porta, faz-nos saber que estamos na sua vila. Sobre o tabuleiro do tanque de uma fonte gótica, com duas arcadas em ogiva, para onde uma bica vai jorrando água fresca, estão esculpidas as armas do Conde e cartela, com a data de 1434 e a identificação do encomendador da obra pública.
Contornada a Colegiada, logo partimos a desvendar a pequena urbe que se afigura de cariz medieval, devido aos eixos viários e à volumetria do casario, este um pouco desordenado, mas ainda cheia de carácter na sua cor branca em contraste com as cores das portadas, socos e cunhais.
O traçado das ruas, organizado em função das curvas de nível, continua a ser o resultado de uma topografia que se impôs ao homem. As ruas principais apresentam uma estrutura circular dentro da qual há algumas radiais. O automóvel não circula com facilidade nas ruelas do centro histórico devido à reduzida largura destas. Até as poucas praças, agradavelmente tranquilas, floridas e ajardinadas são de dimensões exíguas e não convidam ao estacionamento de carros.
Em compensação este centro histórico de Ourém tem uma elevada área de espaços verdes murados, nomeadamente pequenos logradouros e espaços agrícolas, sempre associados a habitações de maior ou menor escala.
A este núcleo histórico, protegido pela sua cerca urbana acedia-se por duas portas, nela inserida, a já referida Porta da Vila e a Porta de Santarém, localizada a sul, contém as armas da vila dadas por D. Teresa, sendo esta a entrada mais direta para a zona mais residencial do burgo.
Na tipologia, as habitações da Vila Velha de Ourém são marcadamente do século XIX e XX, pois o terramoto de 1755 arrasou o edificado, tão completamente que a população preferiu mudar-se para a Aldeia da Cruz, em área adjacente à Ribeira de Seiça, no sopé do monte, numa outra freguesia, onde criou os alicerces do aglomerado que passou a ser a nova sede do concelho, a partir de 1841, primeiro com a designação de Vila Nova de Ourém, até restar só Ourém, a cidade.
Há ainda as persistências do perímetro amuralhado da antiga Ourém que se manteve praticamente inalterado desde o século XV, quando das obras levadas a cabo por D. Afonso, o 4.º Conde de Ourém. O que nos permite ter uma ideia muito aproximada de como seria a área ocupada por esta singular vila, entre o século XV e até ao seu declínio, quando a sede do concelho passou da zona histórica amuralhada da vila para o vale.
A visitar imprescindivelmente o Castelo de Ourém e Paço do Conde (Monumento Nacional),a Igreja Colegiada ou Igreja de Nossa Senhora das Misericórdias (com cripta de D. Afonso, 4º Conde de Ourém), e fazer um percurso que passe pela Fonte Gótica, o Pelourinho, a Cadeia, as Galerias de Exposições, a Antiga Sinagoga, Capela de St.º Amaro (século XVII)e os Passos da Via Sacra.
Breve síntese histórica da Vila Velha de Ourém
A ocupação do morro do castelo, no seu ponto cimeiro, aconteceu, pelo menos, desde o Calcolítico.
O território é conquistado por volta de 1136, ao mundo islâmico, e passa a ser defendido por castelo que o primeiro rei português, D. Afonso Henriques, aí manda construir.
O castelo será doado pelo mesmo monarca, em 1178, à sua filha Infanta Dona Teresa, que lhe atribuiu foral em Março de 1180.
Em 1384, D. João I concede a Vila e o território, bem como o título de Conde de Ourém, ao Condestável do Reino, D. Nuno Álvares Pereira (3.º Conde de Ourém).
Já no século XV, é com o neto do dito Condestável, D. Afonso, 4.º Conde de Ourém e Marquês de Valença, que o território condal conhece um período bastante dinâmico.
É por então que, a Sul, da primitiva estrutura de defesa (o castelo medieval de desenho triangular) a muralha da cerca vilã, é rasgada, para dar lugar ao assentamento dos torreões do novíssimo e imponente Paço do Conde.
Foi, também,com o 4.º Conde de Ourém que a vila reafirmou a sua centralidade regional, reformando o casario e valorizando os espaços públicos e o próprio castelo.
Até meados do século XVIII, o povoamento da área manteve-se regular e ininterrupto no tempo. Só com o terramoto de 1755, que se sentiu em todo o país, é que a maioria da população da vila de Ourém se deslocou para a planície, para área a corresponder, hoje, ao atual centro da cidade de Ourém.
A julgar pela destruição ocorrida no edifício da Colegiada, onde apenas resistiu a Cripta tumular do 4.º Conde, a devastação do conjunto habitacional deve ter sido enorme.
Logo em 1810, a vila sofre nova destruição, é saqueada, vandalizada e incendiada durante as invasões Francesas. As tropas napoleónicas vão mesmo ocupar o local, entre 1810/1811.
Por fim as lutas civis liberais vieram dar o golpe final à antiga Vila de Ourém.