Torre Templária de Dornes, Sineira da Igreja de Nossa Senhora do Pranto (Dornes, Ferreira do Zêzere, Santarém)
*De torre atalaia a torre sineira*
A Torre de Dornes serve de imponente sineira à Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pranto, uma estrutura posterior, que lhe é vizinha. É provável que tenha servido de torre atalaia templária na linha Zêzere-Tejo.
Situa-se sobranceira ao percurso do Zêzere, no topo mais alto de um esporão, com a configuração de uma península. A altura do esporão e o recorte do rio criam um lugar de impacto visual e paisagístico notável.
Apresenta planta pentagonal. Os seus cinco ângulos e os seus cinco lados, são uma opção invulgar de construção se considerarmos a regularidade dos quatro lados das torres atalaias medievais, ou a planta octogonal da Charola de Tomar. É construída em xisto, calcário e alvenaria miúda, dotada agora de telhado com a cobertura em cúpula da abobadilha rebocada.
Possivelmente a construção ocorreu ao tempo de Gualdim Pais, Mestre da Ordem do Templo, na segunda metade do século XII.
Lápide gótica com o escudo heráldico de Gonçalo de Sousa reformador do templo e comendador da Ordem de Cristo |
O seu atual uso é fruto de adaptações ocorridas em função da igreja que, no século XV, beneficiou de melhoramentos encomendados por D. Gonçalo de Sousa, homem de confiança do Infante D. Henrique e comendador da Ordem de Cristo. Disso nos dá conta a lápide gótica, à entrada do templo, com o escudo heráldico dos Sousas.
*A Igreja de Nossa Senhora do Pranto*
A igreja de uma só nave e capela-mor quadrangular, possui uma notável imagem do seu orago, Nossa Senhora do Pranto, uma Pietá de pedra, datável do século XVI.
Há imagens de evangelistas, de Santa Catarina, de uma Santíssima Trindade e de uma Nossa Senhora com o menino, ambas da mesma época.
As paredes estão revestidas por uma composição de azulejos de cor lisa que, pela alternância das cores, cria uma malha decorativa (os designados azulejos enxaquetados, de finais do século XVI e inícios do XVII).
*A lenda de Nossa Senhora do Pranto*
A lenda de Nossa Senhora do Pranto de Dornes, merece ser destacada. Conta-se que Guilherme de Pavia, feitor da Rainha Santa Isabel (r. 1282-1325), perseguia um veado, na Serra Vermelha, quando ouviu um amargo choro. Mas por mais que procurasse não conseguia encontrar de onde vinham os lamentos.
Resolveu então ir contar a novidade à Rainha Santa e para o seu espanto, esta não só sabia o motivo da viagem, como o local exato onde procurar a origem dos estranhos sons. A origem era uma imagem da Senhora do Pranto, com o filho ao colo, que tinha aparecido no rio e tinha sido recolhida numa pequena ermida na serra.
O estranho é que a imagem desaparecia sistematicamente para aparecer do outro lado do Zêzere. Os moradores de Cernache iam buscá-la, mas, durante o trajeto, esta desaparecia para voltar para a outra margem do rio.
A Rainha Santa mandou então erguer uma igreja, em Dornes, para abrigar a imagem. A Nossa Senhora do Pranto que atualmente preside à Igreja não será a imagem original, o que não importa se atendermos que continua até hoje a sua veneração.
*Os círios*
Guardam-se na sacristia, em móveis construídos exclusivamente para o efeito, os círios de Dornes de sucessivas datas, remontando os mais antigos ao século XVIII.
Encontram-se ligados aos festejos do Espírito Santo, uma das preferenciais cultuais dos Templários.
Constituem uma decoração invulgar, composta por dezenas de caixas estreitas e compridas, azuis, com uma abertura onde se vê a vela muito grande e com um efeito decorativo.
Desde a Idade Média que diferentes paróquias da região peregrinam anualmente a Nossa Senhora do Pranto.
As principais celebrações realizam-se no dia 15 de agosto e na segunda-feira do Espírito Santo (solenidade de Pentecostes), festa maior dos círios que para ali convergem, da segunda-feira da Páscoa até ao mês de setembro.
A sacralização de um território ao modo templário
Nossa Senhora do Pranto não é uma santa de interesse litúrgico templário, mas se o início da sua cultuação parece ter tido origem, no século XIV, sob o patrocínio da própria rainha D. Isabel, podemos questionar-nos: se foi coincidente com a extinção papal da Ordem do Templo, se terá ocorrido quando D. Dinis, com diplomacia e trabalhos se afanava em garantir a continuidade dos monges guerreiros templários, em território nacional, sob a designação de Ordem de Cristo.
A Rainha Santa que certamente se sentiu em pranto, quanto teve que ir ao campo de batalha, separar as hostes do filho e do marido e que, perante o último, transformou o pão em rosas, terá tido, aqui, em Dornes uma agenda pessoal divergente da do monarca seu esposo? Dúvidas para uma resposta incerta.
Porém, do que não há dúvida, é que na área em redor de Ferreira do Zêzere, região templária, continuam a encontrar-se diversos templos cujos oragos representam o que parece ser a sacralização dos territórios da Ordem através das suas preferências litúrgicas e cultuais: Espírito Santo e Senhora do Ó (em Sobral) Santa Catarina (em Pé da Serra) São Vicente (em Paio Mendes) Santo António (na Bombeira) São Pedro de Castro, São Miguel, São Tomé e Santa Maria (em Ferreira).