*A fortificação dum acidente geológico numa área planáltica*
Ao subirmos ao Miradouro de São Gens, subimos ao alto do medievo Cerro da Cardosa, até junto do remanescente da alcáçova edificada pelos cavaleiros da Ordem do Templo.
A doação, aos Templários, do território de Castelo Branco, datava de 1165. Os frades iniciaram, desde logo, a fortificação da cumeada do cerro, mas obras mais consequentes ocorreram, entre 1214/1230, ao tempo do 11.º Mestre do Templo, D. Simão Mendes, tendo sido eleito para primeiro alcaide, da nova estrutura e do seu território, D. Fr. Arnaldo Salomão.
*Transposição toponímica do Oriente para o Ocidente*
Castelo Branco foi, decerto, um enclave de grande valor para os Templários. Atenda-se ao seu nome de "baptismo" - Castelo Branco- em consonância com o "sistema de geografia mítica" utilizada pelas ordens religiosas-militares, em Portugal, que as levava a designar algumas das suas possessões nacionais, pela toponímia das possessões mais importantes, que detinham na Terra Santa. Assim parece provável, ter aqui ocorrido a emulação de um poderoso castelo templário, na Terra Santa, Chastel Blanche (na actual Síria), com a recuperação da planta original.
Após a construção da alcáçova surgiu, para defesa da povoação medieval que entretanto começou a surgir a ela associada, uma muralha ou cerca urbana. A cerca funcionava como elemento de proteção ao casario da população local, a viver no exterior do castelo e que para ele trabalhava.
*Dominância visual*
Mesmo que se tenha lido que a alcáçova templária de Castelo Branco fazia contacto visual com os castelos de Penamacor, Monsanto, Penha Garcia e Nisa, também da Ordem do Templo, e com o de Castelo de Vide, o vasto campo de visão usufruído pelos Templários, sobre todos os pontos cardeais, é imprevisível até ocuparmos o seu ponto de observação.
Confirma-se que os Templários selecionaram um acidente geológico, do qual dominavam visualmente uma vasta área planáltica, na qual relevos dignos de nota são inexistentes. Deste ponto, abrangiam um amplo território contido por um só rio e uma cintura montanhosa, quase que contínua:
De Norte para Oeste, as serras da Gardunha, Muradal e Alvelos;
A Sudoeste, a serra das Talhadas, com a sua extrema sul, já banhada pelo Tejo;
A Sul, o grande rio ibérico, o Tejo, é a extrema deste território;
A Sudeste, a serra de Monforte aparece isolada;
A Leste, temos a crista quartzítica de Idanha-a-Nova, no interior da qual corre para sudoeste o rio Pônsul (que desagua no Tejo, a poucos quilómetros de Castelo Branco);
A Nordeste, no horizonte, as serras da Murracha, Ramiro, Moreirinha e Alegrios.
*As alterações da estrutura casteleja*
A alcáçova templária funcionou até à extinção, da Ordem do Templo em Portugal (1314).
Porém, o primitivo castelo irá ser muito alterado, quer por obras realizadas no reinado de D. Dinis, com a edificação de uma nova torre principal e um novo circuito das muralhas, quer, no século XVI, quando da edificação do Paço dos Comendadores da Ordem de Cristo.
A mais antiga representação gráfica, do sistema defensivo de Castelo Branco (o conjunto do castelo e cerca urbana da povoação) corresponde aos plano e alçados produzidos por Duarte D'Armas, em 1509.
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A alcáçova e a cerca albicastrenses cerca de duzentos anos após a extinção da Ordem do Templo, em Portugal |
representação gráfica de que há conhecimento da vila de Castelo Branco e do seu sistemadefensivo
Ao longo dos séculos XVII e XVIII, partes de muralhas vão ruindo devido a danos militares causados pela Guerra da Independência (1640-1668), pela Guerra da Sucessão de Espanha (1704 - 1712) pela Invasão Franco-Espanhola de 1762 e pela Primeira Invasão Francesa (1807-1808).
No século XIX, as muralhas do castelo e da cerca urbana, já totalmente inoperantes para as características da guerra, começaram a ser despedaçadas e reaproveitadas, sendo as suas pedras usadas na construção de habitações na vila. Destruição que se agravou durante uma forte tempestade em 1852, que fez ruir torres da alcáçova.
Em 1867, a área no interior da alcáçova foi aterrada para permitir a construção da Escola Conde de Ferreira.
Durante a primeira metade do século XX, outras partes da foram demolidas para darem lugar a depósitos de água e outras estruturas hidráulicas que, por fim, o miradouro de São Gens, construído em 1941, procurou camuflar.
Na sua forma actual, infelizmente, o castelo não é senão a memória restaurada e recriada, embora incompletamente, do que terá sido a fortaleza couraçada templária.
*O remanescente da alcáçova*
No topo do cerro, da estrutura casteleja da alcáçova, subsistem: dois panos da muralha, um virado a nordeste e outro a sudeste, um reconstruído troço de adarve, uma torre com várias seteiras, a norte, e uma segunda, mais imponente, no ângulo a nascente.
Nesta última torre rasgam-se sobrepostas duas amplas janelas conversadeiras, um revivalismo neomanuelino, reprodução da fenestração desenhada por Duarte d´ Armas (em 1509). As janelas são sobrepostas, sendo a do piso superior cruzetada, formando quatro lumes, definidos por colunelos, assentes em mísulas, sustentando arcos, encimados por moldura em arco canopial.
ROTA DOS TEMPLÁRIOS