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O Relicário do Conde Ourém, exemplo da ourivesaria gótica portuguesa (MNAAntiga, Lisboa)


O Relicário do Conde Ourém é um belo exemplar, em estilo gótico, da ourivesaria portuguesa de meados do século XV.   

Executado, em prata dourada e esmalte policromo, foi instalado na Sé Colegiada de Nossa Senhora da Misericórdia, de Ourém, fundada por D. Afonso de Bragança, em 1445, numa Capela de Relíquias, criada para esse fim, onde hoje existe a Capela de Santo António.

Classificado como Tesouro Nacional, integra o acervo do Museu Nacional de Arte Antiga, desde 1914, proveniente daquela Igreja Colegiada de Ourém.


A sua integração no Museu foi feita por via da Lei de Separação do Estado das Igrejas, de 1911. Encontra-se exposto na Sala de Ourivesaria.

 

Na origem desta alfaia está portanto um grande senhor nobiliárquico, um dos mais altos nobres do seu tempo, que conhecemos como encomendador do Paço de Ourém, o reconstrutor do Paço de Porto de Mós e da Sé Colegiada de Santa Maria da Misericórdia de Ourém, D. Afonso de Bragança (c. 1402/03--1460), 4.º Conde de Ourém e 1.º Marquês de Valença, filho do 1º Duque de Bragança, neto do fundador da dinastia de Avis, D. João I e do Santo Contestável D. Nuno Álvares Pereira, e ainda sobrinho dum monarca, D. Duarte e primo de outro monarca, D. Afonso V. 


À semelhança do que os grandes senhores, à época, faziam, nos seus domínios, o Culto de Santas Relíquias foi introduzido, em Ourém, por intermédio do Senhor da Vila, D. Afonso de Bragança, sendo o relicário um testemunho do estatuto, poder e riqueza do seu encomendador.


No Relicário destaca-se o brasão de armas de D. Afonso, reproduzido num medalhão esmaltado afixado, na face frontal do coroamento do Relicário. Ainda, em duas zonas da base da alfaia, surgem o emblema ou empresa daquele nobre: dois guindastes que elevam uma faixa com a palavra NEIS, abreviatura de Neminis” (“Ninguém”), que como vimos, em O Paço de Ourém representaria, o oposto do seu significado direto.


As encomendas artísticas, deste género, requerem também a descodificação, pelos vindouros, das mensagens de cariz religioso, cultual, histórico, artístico e simbólico que encerram.


No Relicário foi integrado um considerável conjunto de relíquias cristológicas e marianas e de diversos santos apóstolos e mártires: São Paulo, São Tiago, São Pedro, São Senim e Abdão, São Estevão, São Martinho, São Brás, Santo Anastásio, São Gregório, São Vicente, São Lourenço, Santa Catarina e Santa Maria Madalena). 



A fabulosa coleção de relíquias, D. Afonso de Bragança adquiriu-a, elemento a elemento, junto dos responsáveis pelos principais Santuários de Relíquias Europeus, por onde passou a caminho e de regresso das suas viagens: a Roma, a Santiago de Compostela, a Basileia, a Bruges, etc. e quando de peregrinação à Terra Santa.

 

Duzentos e noventa e cinco anos, após a morte do seu encomendador, o relicário que continuava a ser cultuado, na sua capela, em Ourém, sobreviveu ao Terramoto de 1755 e, em companhia do Santíssimo Sacramento, foi trasladado à Ermida de São José, onde permaneceu até que a Sé Colegiada fosse reconstruída. 


Quando das Invasões Francesas, os Cónegos da Sé Colegiada conseguiram resgatá-lo das mãos dos Franceses, pagando o preço do peso da prata, só que infelizmente foi devolvido já sem a cruz do seu zimbório que era cravejada de pedras preciosas. 

 

 

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