O Relicário do Conde Ourém é um belo exemplar, em estilo gótico, da ourivesaria portuguesa de meados do século XV.
Classificado como Tesouro Nacional, integra o acervo do Museu Nacional de Arte Antiga, desde 1914, proveniente daquela Igreja Colegiada de Ourém.
A sua integração no Museu foi feita por via da Lei de Separação do Estado das Igrejas, de 1911. Encontra-se exposto na Sala de Ourivesaria.
Na origem desta alfaia está portanto um grande senhor nobiliárquico, um dos mais altos nobres do seu tempo, que conhecemos como o encomendador do Paço de Ourém, o reconstrutor do Paço de Porto de Mós e da Sé Colegiada de Santa Maria da Misericórdia de Ourém, D. Afonso de Bragança (c. 1402/03--1460), 4.º Conde de Ourém e 1.º Marquês de Valença, filho do 1º Duque de Bragança, neto do fundador da dinastia de Avis, D. João I e do Santo Contestável D. Nuno Álvares Pereira, e ainda sobrinho dum monarca, D. Duarte e primo de outro monarca, D. Afonso V.
À semelhança do que os grandes senhores, à época, faziam, nos seus domínios, o Culto de Santas Relíquias foi introduzido, em Ourém, por intermédio do Senhor da Vila, D. Afonso de Bragança, sendo o relicário um testemunho do estatuto, poder e riqueza do seu encomendador.
No Relicário destaca-se o brasão de armas de D. Afonso, reproduzido num medalhão esmaltado afixado, na face frontal do coroamento do Relicário. Ainda, em duas zonas da base da alfaia, surgem o emblema ou empresa daquele nobre: dois guindastes que elevam uma faixa com a palavra NEIS, abreviatura de “Neminis” (“Ninguém”), que como vimos, em O Paço de Ourém representaria, o oposto do seu significado direto.
As encomendas artísticas, deste género, requerem também a descodificação, pelos vindouros, das mensagens de cariz religioso, cultual, histórico, artístico e simbólico que encerram.
No Relicário foi integrado um considerável conjunto de relíquias cristológicas e marianas e de diversos santos apóstolos e mártires: São Paulo, São Tiago, São Pedro, São Senim e Abdão, São Estevão, São Martinho, São Brás, Santo Anastásio, São Gregório, São Vicente, São Lourenço, Santa Catarina e Santa Maria Madalena).
A fabulosa coleção de relíquias, D. Afonso de Bragança adquiriu-a, elemento a elemento, junto dos responsáveis pelos principais Santuários de Relíquias Europeus, por onde passou a caminho e de regresso das suas viagens: a Roma, a Santiago de Compostela, a Basileia, a Bruges, etc. e quando de peregrinação à Terra Santa.
Duzentos e noventa e cinco anos, após a morte do seu encomendador, o relicário que continuava a ser cultuado, na sua capela, em Ourém, sobreviveu ao Terramoto de 1755 e, em companhia do Santíssimo Sacramento, foi trasladado à Ermida de São José, onde permaneceu até que a Sé Colegiada fosse reconstruída.
Quando das Invasões Francesas, os Cónegos da Sé Colegiada conseguiram resgatá-lo das mãos dos Franceses, pagando o preço do peso da prata, só que infelizmente foi devolvido já sem a cruz do seu zimbório que era cravejada de pedras preciosas.