*Templários em Portugal, duas centúrias de história *
A Ordem do Templo assumiu um papel de grande importância na conquista e na consolidação de parte do território português, bem como na evolução da arquitetura militar portuguesa.
A primeira referência documental que se conhece da Ordem do Templo, em território que viria a ser o de Portugal, remonta a 19 de março de 1128, corresponde à entrega, aos frades-militares, do castelo de Soure –localizado a escassos quilómetros a sul da cidade de Coimbra, na fronteira entre o espaço cristão e o território muçulmano. A doação foi da responsabilidade de D. Teresa do Condado de Portucalense, este ainda sob domínio do Reino de Leão.
A 24 de Junho de 1128, três meses depois daquela referência documental D. Afonso Henriques, filho de D. Teresa, revoltou-se contra sua mãe e defrontou as forças leais àquela, na Batalha de S. Mamede, travada junto a Guimarães. O resultado dessa batalha foi favorável ao infante D. Afonso Henriques, que passou a governar o território portucalense.
A Ordem do Templo surgiu portanto quinze anos antes da libertação do Condado Portucalense, do reino de Leão, já que em 1143, D. Afonso Henriques alcançará a independência portuguesa, com a criação do Reino de Portugal.
A presença Templária prolongou-se em Portugal por perto de duzentos anos, desde aquele ano de 1128 até à extinção da Ordem, em 1312, e revestiu-se de uma importância que só agora começa a ser conhecida e devidamente valorizada, malgrado de ter sido uma das primeiras ordens militares a a atuar no nosso território e de ter sido detentora de um considerável património.
*A aliança tácita entre Portugal e os Templários*
Em Portugal, os Templários associam-se claramente à independência e à consolidação e povoamento do território do reino português.
Parece ter ocorrido como que uma aliança tácita, entre o primeiro rei de Portugal e os seus sucessores com os monges guerreiros, patente pelos muitos e grandiosos investimentos feitos pela Ordem, no território, e no apoio recebido dos monarcas portugueses.
Essa aliança tácita encontra um dos seus momentos mais altos, quando a Ordem é extinta pelo Papa Clemente V, em 1312.
Clemente V transfere todos os seus bens para a Ordem do Hospital, exceto os de Portugal, de Castela, de Aragão e de Maiorca, os quais ficariam na posse interina dos monarcas, até o conselho decidir qual o seu destino.
Logo em 1313, o monarca português D. Dinis envia uma delegação ao novo papa, João XXII, para negociar os termos e condições da extinção da Ordem do Templo, em Portugal, cujo desfecho ocorrerá em 1319, pela bula pontifícia Ad ea ex quibus cultus augeatu, que igualmente origina a criação da novíssima Ordem de Cristo.
Esta bula feita a pedido de D. Dinis, determina para residência da nova Ordem, a vila de Castro Marim, no Algarve, e ao mesmo tempo concede-lhe todos os rendimentos, jurisdições e regalias que gozava a Ordem dos Templários, extinta por Clemente V. Assim, rebatizados e momentaneamente afastados da sua sede, em Tomar, os Templários escapam, em Portugal, ao fim.
A original aliança, entre os reis portugueses e os frades, vai ter continuidade, entre a Ordem de Cristo e a segunda dinastia portuguesa, a de Aviz.
*A castelologia templária em Portugal, uma castelologia high- tech*
Refletindo o conhecimento adquirido na Terra Santa, a Ordem do Templo foi a instituição que melhor dominou as regras da arquitetura militar e que melhor as soube aplicar no terreno, sendo ainda responsável por algumas estruturas inovadoras.
Chegaram a possuir vinte castelos em Portugal, a maior parte dos quais entraram na sua posse ainda durante o século XII, durante a governação de D. Afonso Henriques (1128-1185) e de D. Sancho I (1185- 1211).
Se tivermos em conta que, nos finais do século XII e inícios do século XIII, a defesa do reino se apoiava em cerca de duas centenas de castelos, avaliamos a importância que a Ordem do Templo, ao controlar quase 10% das fortificações cristãs, desempenhou contra as taifas e califados muçulmanos a Sul.
Alguns dos castelos dos Templários - como é o caso de Soure e de Longroiva - já existiam antes de terem sido doados aos Templários. Os freires, em casos como estes, limitaram-se a reformar a sua arquitetura, melhorando as condições de defesa.
Noutros - como os castelos de Pombal, Tomar e de Almourol - que foram construídos de raiz, os Templários aplicaram aqui todos os seus conhecimentos de arquitetura militar, transpondo para o extremo da Península Ibérica as mais inovadoras técnicas de construção militar, consolidadas no Próximo Oriente.
Digamos que vão construir, em Portugal, castelos de alta tecnologia "high- tech", quer dizer com os novos dispositivos, mais eficazes para a defesa estática que era o tipo de defesa usada à época. Foram os responsáveis por três inovações que alteraram a arquitetura militar românica portuguesa (o alambor - os paramentos com talude ou ressalto-, a torre de menagem isolada e o cadafalso ou húrdício -, uma galeria de madeira que coroava as estruturas torreadas, na face externa dos muros, permitindo tiro vertical sobre a base dos muros.
Em torres de menagem registem-se as Tomar (1160), a mais antiga, a de Almourol (1171), a de Pombal (1171), a de Penas Róias (1172) e a Longroiva (1174), todas subsistentes, bem como as inscrições que as datam. Acrescem as torres do castelo de Soure, (c. 1171-1175), e a de Monsanto.
Há ainda que considerar que os Templários fundaram igualmente várias povoações - como Vila do Touro e Castelo Branco - contribuindo para o povoamento das zonas de fronteira, particularmente na zona leste do reino.
ROTA DOS TEMPLÁRIOS