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Kumily, a cidade do chá, das especiarias e da reserva de tigres (Kerala, Índia)





Com o avançar pelos terrenos montanhosos dos Gates Ocidentais, terra de montanhas íngremes, surgem novidades na paisagem, sob a forma de plantações de cultivo intensivo. 

 

Encostas que já estiveram total e densamente cobertas por esplêndidas florestas tropicais, de grande biodiversidade na flora e fauna, viram o seu coberto florestal, irremediavelmente substituído por monoculturas.


Conforme a altitude, perfilavam-se, ao lado da estrada, os plantios de ananás e cardamomo, os troncos sangrando das plantações das árvores de borracha, as extensas manchas verdes dos alinhados arbustos do chá.



Kumily, cidade fronteira com santuário de vida selvagem


Kumily, implantada nas Colinas do Cardamomo, a 880m do nível do mar, recebemos com uma fresca temperatura que convida, com o avançar da noite, ao inesperado uso de um leve agasalho. No Querela, será invulgar esta necessidade de conforto para aquecer e não para refrescar.  


Mas mais invulgar, ainda, foi o serviço de quartos do alojamento, proporcionar aos hóspedes, de modo espontâneo, uma distribuição geral de sacos de água quente, não fosse a temperatura, a rondar os 19.º C., perturbar o seu sono. Foi uma das mais notáveis demonstrações, que experienciei, de como prazerosamente é possível antecipar possíveis necessidades dos clientes. 



Kumily, cidade fronteira com o santuário de vida selvagem do Parque Nacional Periyar



O forasteiro, que entra em Kumily, presente de imediato, uma dimensão urbana que dominará com facilidade, um trânsito de veículos e de gente que flui sem congestionamento e uma convidativa atmosfera turística.  Encontra, ao seu dispor, estruturas de apoio que lhe facilitam ter um agradável usufruto da vida local: há um mar de alojamentos, muitos de boa qualidade; lojas de souvenirs em contínuo, sendo algumas de artesanato de outras regiões do país; operadores turísticos locais em abundância. 


Kumily, cidade fronteira com o santuário de vida selvagem do Parque Nacional Periyar, tem raízes no período colonial britânico e o seu desenvolvimento atual está indubitavelmente associado ao crescimento das atividades de turismo, no parque, em particular desde a declaração da Reserva de Tigres, em 1978, ano a partir do qual houve um aumento, em contínuo, no número de turistas que visitam a região. 


Se a economia de Kumily, hoje, muito deve ao parque natural que dela dista poucos quilómetros, é preciso não esquecer que a cidade, também é famosa pelas suas produções agrícolas como o chá, o cardamomo, a pimenta, o cravo, a curcuma e a canela, pelo que justificadamente é um dos principais centros indianos da produção e da comercialização de especiarias vendidas em lojas especializadas. 


As especiarias locais são excelentes lembranças que se devem comprar, para levar para casa, ou para oferecer aos amigos. 


Os mercados e os supermercados estão cheios de outros produtos locais igualmente apreciados pela sua qualidade, porque para além das especiarias, colhe-se e vende-se, por aqui, tapioca, arroz, coco, cana-de-açúcar, café, gengibre, capim-limão e uma infinidade de legumes.  



Parque Nacional Periyar


Indubitavelmente a grande atração turística da cidade é o Parque Nacional Periyar, que se desenvolve ao longo da bacia hidrográfica do Periyar e do Pambarivers, dois dos maiores rios de Kerala. Representa uma área de 777 km² de Área Protegida, dos quais 430 km², numa zona central, estão livre de qualquer presença ou perturbação humana. 

 

O parque foi declarado Reserva de Tigres, em 1978, quando só cerca de meia dúzia de exemplares daqueles animais sobreviviam na floresta. Tem como objetivos a conservação da vida animal e da flora, bem como a manutenção das atividades das tribos indígenas tradicionalmente residentes, e, o acolhimento e acompanhamento de visitantes, pois muitas atividades são organizadas dentro do parque, com base num modelo de ecoturismo sustentável. 


Os belos cenários naturais oferecem ótimas trilhas disponíveis para quem queira, ao longo de dias, com o apoio de guias treinados, descobrir e experienciar in loco a natureza das florestas tropicais. 


Para os menos afoitos, ou os mais apressados, há passeios de barco nas águas da Lago  Periyar,  que permitem,  da amurada, a observação de animais selvagens. 




Lago Periyar, entre azuis-escuros da água e coloridos verdes e semiverdes da floresta




Barcos em abundância e animais selvagens poucos


Alinhámos nessa perspetiva. Previa-se que um percurso de barco pelo lago Periyar, entre azuis-escuros da água e coloridos verdes e semiverdes da floresta, fosse um bom momento de descontração e serenidade para a observação da vida selvagem perto das margens.


Mas devido às férias de Natal, havia uma imensa multidão de famílias a aproveitar os dias de intervalo escolar, o que requereu gastar tempo nas filas de espera, para entrar num dos autocarros do serviço do parque, que vão da bilheteira e receção (National Park Ticket Office) até às estruturas de embarque (Thekkady Boat Landing). E, mais tarde, de novo, paciência nas filas de retorno.

Famílias a aproveitar os dias de intervalo escolar


Chegados ao cais, na companhia das numerosas famílias indianas que também procuravam relaxar na natureza, lá embarcámos no primeiro barco disponível, ganhando o andar superior, na esperança de termos um bom posto de observação da vida selvagem. Fizemos bem, mas mesmo com tal estratégia, precisámos do apoio voluntário dos guardas do parque em serviço no barco, e de olho vivo, para lobrigar os animais. 

 

Talvez, naquele dia, estivessem mais distantes porque, com o vaivém dos barcos em contínuo, a abarrotar com milhares de silenciosos observadores, os animais preferissem esconder-se, por entre as árvores da densa floresta tropical das colinas em redor do lago.

  

Talvez o meio não fosse o mais eficiente, mas a época era a mais apropriada, já que na estação seca, os animais vêm, às margens do lago, em busca de água. Avistar animais selvagens será muito mais difícil durante as pesadas chuvas das monções, pois haverá água suficiente, na selva, para que não se aproximem da margem para beber.


 

Congestionamento na navegação (Lago Periyar)

 

Sob a suspeita de que o dia, pelo congestionamento na navegação, não seria muito benéfico para usufruir da vida selvagem, lá topámos, ao longe, uma manada de elefantes indianos e grupos de javalis e cervos sambar, na beira da água. Corvos d'água e aves de rapina foram mais generosos na sua presença, aparecendo à mistura com calaus-de-bico-cinzento do Malabar e papa-moscas. 


No final, demos nota positiva à experiência de navegar no Lago Periyar, como processo introdutório à vida selvagem do Parque Nacional Periyar (Reserva de Tigres). 







ROTA ÍNDIA DO SUL

EM BUSCA DE CRISTÃOS E ESPECIARIA

 Parte 4: De Cochim a Kumily - Por igrejas cristãs, peregrinações hinduístas e plantações tropicais 


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